Conviver 3x por semana com as mesmas pessoas faz com que você crie laços, conviver 3x por semana com pessoas que estão na mesma situação que você, faz com que você crie laços maiores ainda, pois só quem vive o que você vive entende 100% tudo o que se passa com você.
O bom de ter esse tipo de convívio é que você troca experiências, quando precisa desabafar as outras pessoas sabem no fundo o que você esta querendo dizer. O lado ruim, é que por ser um tratamento que muitas vezes força o organismo, as vezes temos que dizer adeus aos nosso companheiros que estamos tão acostumados a ver 3x por semana. O adeus nem sempre vem pela morte, mas por uma troca de tratamento, transferência de clinica e o adeus mais feliz, o de quando uma pessoa vai transplantar.
As pessoas que fazem hemodiálise criam vínculos umas com as outras, nasce uma grande família, e se apegar a essas pessoas é inevitável, pois com elas você ri, com elas você se preocupa e com elas você chora. Elas se tornam mais próximas que as amizades mais antigas que você possui, se tornam mais próximas que seus familiares, pois você convive por mais tempo.
Eu já disse adeus a quatro pessoas queridas em um ano e meio de tratamento. Graças a Deus, três desses foram por bons motivos, dois transplantes e uma gravidez/transferência de clinica, infelizmente um adeus foi falecimento, mas quando uma pessoa chega a um estado de sofrimento, esse adeus vem como um alívio.
Dessas quatro despedidas, a ultima me marcou muito e eu nem sei explicar bem o porquê, simplesmente sinto uma tremenda falta, mas me consola saber que a pessoa esta bem.
Quando cheguei a clinica sábado em um passado não tão distante e fiquei sabendo que o Sr. J. havia sido transplantado, eu fiquei em um misto de preocupação e felicidade.
Os dias foram passando e na hemodiálise as coisas foram se tornando sem graça. O Sr. J. era boa parte do meu divertimento (isso mesmo) e distração lá na clinica. Ele adorava comentar sobre filmes, vivíamos competindo quem ficaria com a pressão melhor durante a hemodiálise e eu sempre ganhava maravilhosas balas de milho, rsrs.
É… Eu me apeguei demais naquele senhor que era sistemático com suas revistas, que até me emprestava, mas sempre ficava de olho para eu não amassar ou sujar as paginas, rsrsrs
No ultimo sábado ele apareceu na clinica, pois é, foi com 31 dias de transplantado que o louquinho aparece lá, levou remédios que ele não iria usar mais (agora tenho um estoque de complexo B, rsrs) e me trouxe um saco fechado de bala de milho, rsrs…
Segurei o quanto pude, mas assim que ele passou pela porta de saída, caí em prantos, a técnica de enfermagem em principio se assustou com minha choradeira, mas expliquei que estava apenas emocionada por ver o meu amigo, o meu “tiozão” (ele odeia ser chamado assim, hahahaha), o querido Sr. J. Ver ele vendendo saúde me emocionou e me encheu de alegria, mas ao mesmo tempo me bateu uma saudade de conviver com ele toda semana, mas enfim, é por um bom motivo, outros apegos virão e irão.
Assim funciona a vida, nada dura para sempre, por isso é preciso aproveitar cada momento.
O carinho que recebi nessa visita dele, me fez perceber que deixei com ele o melhor que pude dar nesse tempo de convivência, e isso deve se repetir com todas as outras pessoas a minha volta, quero deixar sempre o melhor que puder, pois no dia que tiver de dar adeus, será com amor, jamais com rancor.
As pessoas deveriam perceber isso, e fazer o mesmo, não é só a morte que afasta as pessoas, a vida também pode afastar, então vamos deixar todos com o nosso melhor.
Essa foi a ultima lição que aprendi, e outras lições virão 🙂
O apego é inevitável, a memória que deixamos é nossa herança.
Obrigada Sr. J. por todo carinho, o convívio não será o mesmo, mas sempre vou entrar em contato para ter noticias do Senhor. Que Deus conserve por muitos e muitos anos o enxerto (Rim transplantado) e guie sempre seu caminho e de sua família.