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Sétimo mês.

Comecei a sentir umas dores na parte superior direita do abdômen, um palmo acima de onde foi a cirurgia do transplante. Eu achava que era algo no rim, mas os exames revelaram que era a filha da mãe da pedra na vesícula (sei da existência dela desde 2013, se não em engano… é… UMA VERGONHA DIZER ISSO). A pedra já está nos seus 2 cm e resolveu dar o ar da graça e começar a aprontar. E para piorar a situação, os níveis das enzimas do figado começaram a ficar altos. Resultado? Fui encaminhada para o setor de Cirurgia Geral para ver se arrancar a vesícula de uma vez.
E vou dar um conselho bem útil, quem pretende transplantar, resolvam todas as coisas que precisam de cirurgia ANTES do transplante, porque arrancar uma unha encravada depois do transplante já é tenso, imaginem uma cirurgia. Não façam igual a pessoa aqui, que ficou adiando e agora vai pagar o preço né?Afinal, provavelmente só vão me operar se eu for parar no PS com muita, muita, muita dor. Operar em emergência não é o mundo ideal para nós… fica a lição. E um puxão de orelha em mim mesma. CABEÇÃÃÃÃO!
Tirando esse detalhinho (afinal, são só 2 cm :D), o rim esta bem.

Medição do sétimo mês da Creatinina:
1- 1,15 (05/09)

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Sexto mês.

Não fiz exame de sangue, porém, tive outras consultas com outros especialista, para aproveitar as férias da faculdade que praticamente se estenderam até meio de agosto. Acabei passando com a equipe de Osteodistrofia, dermatologia e também na ginecologia.
O bom de se tratar no HC, é que todo tratamento fica centrado lá, então uma especialidade acaba tendo todo o seu prontuário, ou seja, eles tem acesso a todo meu histórico como paciente, não somente da área dele, mas de todas as que eu já passei e de vários anos atrás (no meu caso eles tem dados desde 2009 e sim, eles usam esses dados para fazer uma evolução do meu caso).
Neste mês eu passei também no Uro/Cirurgião, me avaliaram e acabaram me dando um baita intervalo para a próxima consulta, quase 6 meses para o próximo retorno. Como a quantidade de linfocele acumulada no abdome estava bem pequena (15 ml), foi me dito que o próprio corpo iria absorver, não tinha necessidade de continuar acompanhando com tanta frequência. Eu adorei, rs.

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O segundo mês – Parte I.

O primeiro mês passou e a creatinina em queda constante.
Consultas semanais e apenas exames de sangue após a alta hospitalar.
Após aumento da dose do diurético a perna desinchou, não senti nenhum problema na respiração e o peso que ganhei após a cirurgia começou a ser perdido.
Tudo caminhava muito bem.

Já no começo do mês eu havia agendado a retirada dos pontos e do suspeito Duplo J. Digo suspeito, porque cada pessoa que conversei teve uma experiência diferente com ele. Algumas pessoas sentiam ele, outras disseram que só descobriram a existência dele no dia que foram para retirar, outras que sofreram muito para retirar, outras que simplesmente não sentiram absolutamente nada.

Abaixo eu relato MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL, peço que não se baseiem no meu caso, o que aconteceu comigo é bem difícil de acontecer com outra pessoa. 

Quem não tem estômago forte, pare de ler aqui.
01/04 – Retirada do Duplo J e dos pontos.
Sempre quando tenho alguma consulta/procedimento no HC na parte da manhã eu costumo madrugar lá. Gosto de chegar bem cedo para ser um das primeiras a ser atendida. Isso só não funciona quando é consulta com a minha nefro s2 que avalia o transplante, neste caso, eles só me dão a senha 30m antes do horário agendado.
Então, como o procedimento estava marcado para as 8hrs, eu cheguei cedo e fui uma das primeiras na famosa fila da Urologia. Quem conhece sabe do que estou falando, rs.
Quando a ala finalmente abriu, peguei a senha e ainda eram 7hrs. Eu fiquei sentada nas cadeiras do lado de dentro da ala da urologia e fiquei esperando o grande momento.
O que mais queria era tirar os pontos. Eu já estava há 1 mês e 2 dias com eles e era bem desconfortável, repuxavam demais.
Foi aproximadamente 8:40 quando me chamaram para a sala de procedimentos, lá eu não sabia o que me esperava, eu realmente havia colhido tantas experiências que percebi que cada pessoa era de um jeito.
Quando entrei na sala, vi que era uma sala bem pequena, com teto baixo e todos equipamentos bem muquiadinhos.
Quem apareceu primeiro foi uma enfermeira. Um doce de pessoa, extremamente delicada, me ajudou a me preparar para a retirada do Duplo J.
Vesti um avental e deitei na maca que parecia aquelas mesas ginecológicas, rsrs, suuuuuuuuuuper desconfortável… Tive que ficar numa posição bem… enfim… rs… Então a enfermeira sempre pedindo permissão, passou xilocaína lá nas partes baixas, perto da entrada da uretra… É amigos, cada vez mais desconfortável, rsrs… e nesse momento eu fiquei com inveja das pessoas que relataram que foram sedadas para esse procedimento. Eu não fui. Estava lá, tendo direito a todas as sensações, rsrsrs.
Quando o médico entrou, acho que dei o maior sorriso do mundo… Imaginem a cena, eu lá… toda “à volonté”, sorrindo para o médico, hahahahahaha… Eu explico.
Quando transplantei esse médico e o cirurgião que fez a cirurgia s2 que ficaram fazendo o checkup diário da incisão, então eu já o conhecia e assim fiquei mais tranquila, sabia que estava em boas mãos.
O médico se encapou inteiro, dos pés até cabeça, parecia aqueles filmes de contágio, rsrsrs.
E após isso começou a preparar as ferramentas. Quando vi o que seria inserido pela minha uretra a dentro eu quase pulei da maca e saí correndo.
Vou tentar descrever a visão que tive.
Ele pegou uma ferramenta que tinha uma câmera na ponta (com uma luz hiper forte) e essa mesma câmera tinha uma espécie de pinça que puxaria o tal Duplo J.
O tamanho dessa ferramenta é um pouco maior que uma régua (no meu ponto de vista, posso estar errada), e ele tinha a mesma espessura de um canudinho de boteco, aqueles mais finos e coloridos. Claro que fiquei tensa, claro, quem não ficaria? Um negocio rígido e comprido entrando num espaço bem pequeno, o que me consolava é que parecia fino.
O médico depois de tudo preparado ligou o ultrassom que estava atrás da maca onde estava deitada e deixou ele pronto para a ação.
Assim como a enfermeira, ele foi super delicado e cuidadoso, sempre avisando o que iria fazer e pedindo permissão, achei válido.
Então começa a sessão dramalhão. Ele tentou sozinho inserir a tal ferramenta na uretra, mas tava difícil, então ele pediu auxilio para a enfermeira que otimista já estava deixando preparado o material do próximo paciente, hahahaha…
Agora vem a cena mais bizarra/comédia do momento. A sala era pequena, apertada e tinha duas luzes queimada, então a iluminação estava ruim. Diante disso, ele pediu para a enfermeira pegar o celular dele e ligar a lanterna e mirar a luz lá… sim… lá…
Eu quando estou nervosa digo as coisas mais absurdas e tontas do mundo. Comecei a rir com a cena e falei para os dois, “nada de selfie hein?”, HAHAHAHAHAHAHAHA…
Os dois se olharam e devem ter pensado “que doente mental, acho que transplantamos órgão errado”, HAHAHAHAHAHAHAHHA…
Claro que fiquei sem graça mas… já tinha acontecido. E senhores, o dia ainda ia piorar MUITO.
Quando finalmente ele conseguiu inserir o raio da ferramenta eu vi estrelas… sério, aquela xilocaína não fez nem graça, doeu, doeu muito, doeu rude.
E para piorar minha situação, ele não estava achando a ponta do Duplo J, então dá-lhe cutucar de tudo quanto é jeito pra tentar achar esse danado.
Depois de mais ou menos 20 minutos, que me representou dias de demora, ele finalmente achou o raio do cateter. O Duplo J estava posicionado bem errado. Geralmente fica uma pontinha na bexiga, o meu estava todo no uréter. Suei de tanta dor.
Mas assim que achou, puxou que nem percebi, quando olhei ele estava jogando uma mangueirinha branca no lixo.
Bom, a parte 1 foi concluída, então era a hora mais esperada: retirar os pontos.
O medico avaliou ponto por ponto e autorizou a enfermeira a tirar todos eles.
Enquanto o medico tirava as vestes de contágio a enfermeira começou a tirar os pontos, só que quando chegou no quinto ponto, eu virei um chafariz humano.
A enfermeira só falou “vishhhhh” e o médico correu pra ver o que era. Aí corre médico pegar gaze para segurar a aguaceira.
O médico assumiu o posto da enfermeira e começou a drenar essa água. Não era pouca não. Foi MUITA água saindo pelo ponto, tanto que não deram conta, eu acabei molhando a maca, o piso, minha blusa, o avental… foi loucura total.
Enquanto o médico ficou drenando, ele pediu para enfermeira retirar o restante dos pontos para ele ver se mais algum iria vazar também.
Eu fiquei bem desanimada, confesso.
No total foram 21 pontos e somente o de numero 5 resolveu abrir o bico. O interessante nessa experiência é que onde eu achei que tava inchado por causa do rim, na verdade era PURA ÁGUA!!! Acho que o medico ficou mais de 30m drenando água. Até que ele achou que tinha drenado tudo. Sem exagerar, quando cheguei em casa me pesei, eu perdi 3kg nesse dia, só de água.
Quando sentei para me vestir e ir embora, o negocio desembestou novamente a vazar e não foi pouco não. O medico drenou mais um pouco e saiu para atender uma intercorrência, fiquei eu e a enfermeira que já havia devolvido o material do próximo paciente para o armário, rsrsrs.
Quando tudo parecia controlado eu levantei e o que aconteceu? Sim… mais água.
O médico voltou, me prescreveu dois antibióticos devido ao buraquinho que ficou na incisão, tudo pra não infeccionar e saiu novamente. Disse para não me preocupar, que é melhor que eu elimine assim esse liquido do que ele ficar acumulado, que com o tempo ia fechar sozinho.
A enfermeira delicada já estava impaciente, não parava de vazar, então teve a ideia genial de pegar uma fralda geriátrica e me deu para vestir…
Assim… A primeira vez que andei de cadeira de rodas no hospital foi um dos momentos mais traumáticos da minha vida (eu narrei isso nas primeiras postagens), só que nada supera a sensação de USAR FRALDA!!! Quando saí da sala de procedimento percebi que havia ficado lá dentro mais de DUAS HORAS!!! Sim… duas horas. Fiquei com pena dos pacientes que viriam depois.
Enfim, problema solucionado senhores? Nada disso. Cheguei na porta do hospital para ir na farmácia retirar os antibióticos, quando percebo estava totalmente molhada. Minha sorte foi estar de calça preta, então não dava para perceber já que ela ficou toda molhada, estava tudo da mesma cor, rsrs… Pois é, a fralda não deu conta. A minha sorte é que tenho uma intuição muito boa e por algum motivo, eu tinha uma fralda geriátrica na bolsa, corri no banheiro e troquei. Ufa, alivio. Nem quis ficar na farmácia para pegar remédio, corri para casa, tomei um belo banho e fiquei vazando, vazando, vazando…
O dia acabou, porém, esse vazamento foi longe comigo.
Na próxima postagem eu detalho mais o que aconteceu, por hoje fico por aqui.
Um grande abraço a todos.
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O primero mês…

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Olá amigos. Eu já entrei no 6 mês de transplante e tudo esta muito bem, sei que estou devendo informações, então vou escrever mês a mês o que aconteceu, hoje sai o mês 01, se Deus quiser e os anjos do TCC me ajudarem, rsrsrsrs, quinta que vem eu escrevo sobre o mês 02, que foi o mais “interessante” dentre esses 6 que já passaram. Qualquer dúvida que tiverem em relação a algo que eu escrever aqui, podem comentar que eu respondo, ou se preferir me mandem e-mail (esta ali no menu ao lado).
Bom, minha internação durou 8 dias e se não fosse o emocional meio abalado, diria que tinha sido 100% perfeita.
Na primeira semana de alta já tive minha primeira consulta com a equipe de cirurgiões da urologia. O médico, super atencioso, viu minha perna e disse que era normal estar inchada (relatei sobre isso no post anterior), que conforme os dias passassem iria melhorar.
Nesta mesma consulta, ele já fez a solicitação da retirada dos pontos e do Duplo J, que seriam somente em 3 semanas.
Na semana seguinte, fiz o primeiro exame de sangue pós alta e passei na psicóloga. Lá foi uma reunião de transplantados, eu e mais 3 senhores também recém transplantados. O que pude perceber lá, que é a taxa de perda do enxerto é calculada meio errada, acho que a idade vai influenciar muito, porque os três senhores já na primeira semana deles estavam tomando os remédios de forma errada e já haviam esquecido de tomar pelo menos uma vez cada um. Ou seja, muitos aí comem bola, por isso o órgão acaba não durando tanto. Minha opinião.
Ainda na psicóloga, relatei que não estava me sentindo bem emocionalmente, que estava triste, não conseguia ficar feliz. E segundo ela, tinha grandes chances de ser algum dos imunossupressores, a principio não botei muita fé, já que estava triste um pouco antes do transplante. Porém, depois confirmei, já que assim que começaram a diminuir as doses, eu melhorei muito de humor.
Aproveitei que estava lá no hospital e resolvi passar no pronto socorro, a perna inchada não estava me agradando nada. Depois de um rolo enorme por falta de experiência minha no pronto socorro, eu fui atendida. O que o cirurgião disse na sexta anterior, eles confirmaram lá. Pés para alto e é normal ficar inchado e com o tempo iria melhorar. Fui para casa exausta, andar cheia de pontos na barriga era bem incomodo.
Ainda nesta mesma semana, passei na primeira consulta com a médica nefrologista que iria me acompanhar de agora em diante. Fiquei muito feliz, uma médica super atenciosa e preocupada com o bem estar do paciente, sem pressa de atender, tira todas as dúvidas, enfim, adorei. Ela aumentou a dose do diurético e disse que o inchaço da perna iria diminuir. A creatinina já estava em 1.39 e tudo estava dentro do esperado. O retorno seria na próxima semana.
O esquema ficou da seguinte forma, de segunda iria colher o sangue para na terça passar em consulta e na farmácia para retirar os medicamentos, já que toda semana os mesmos eram ajustados.
A semana seguinte a creatinina aumentou um pouquinho, mas nada significante, a médica ficou super feliz e tudo estava além da expectativa até, somente minha glicose que estava dando uma alterada, resultado disso, nada de açúcar na dieta.
Em casa as coisas eram um pouco mais difíceis no sentido de ter autonomia para levantar da cama, deitar na cama, ir para o banheiro (que acontecia a cada 2 horas, inclusive nas madrugadas). No total foram 21 pontos e como eles repuxavam um pouco, era difícil fazer alguns movimentos, mas nada era mais horrível do que espirrar, rsrsrs, parecia que todas tripas iriam para fora, rsrsrs. Isso porque eu segurava a cirurgia pra nada escapar, rsrsrs.
Estava ansiosa para retirar os pontos e ficar livre para me movimentar normalmente. Só que isso só aconteceu no inicio do segundo mês, então vai ficar para uma próxima postagem.
Completei o primeiro mês já com a perna desinchada e com as alterações de humor solucionada, que no meu caso era a Prednisona a culpada.
Medição do primeiro mês da Creatinina (pós alta hospitalar):
1- 1.39 (14/03)
2- 1.44 (21/03)
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O transplante – Parte Final.

Índice

6/3 Qualquer coisa para fugir do tédio…A madrugada de sábado para domingo foi um pouco tensa. Muita gritaria, um paciente acabou atacando uma enfermeira e houve uma correria no corredor acompanhado de confusão e mais gritaria.
Após a confusão, a enfermeira entrou de madrugada para tirar meu acesso central, não doeu nada, é tão fininho que de verdade, se não fosse o curativo puxando meu cabelo, eu nem notaria ele lá. Bom, retirar o acesso central era um bom sinal, fiquei feliz, apesar de meia cabreira por ter sido de madrugada, mas já tinha entendido que lá não existe hora para acontecer os procedimentos tipo exames/retirada de sonda/acesso/etc.E depois de tudo isso, claro que não foi fácil pegar no sono e quando ele finalmente chegou, acabou chegando junto também a técnica para colher exame de sangue. Resultado: Não dormi.
Segui mais uma vez toda rotina matinal: Fui me pesar, tomei café (por um milagre apareceu um pão com manteiga), fui para o banho, tomei todos os imunossupressores e fizeram minha checagem de pressão/febre/glicose. Tudo isso e ainda eram 9h da manhã.
Fui dar uma volta, ver quem eram as técnicas do dia e ver se meu médico estava lá. Descobri que meu médico não viria neste dia, então provavelmente não teria nenhuma novidade significativa.
Era 10h quando uma senhorinha muito simpática pediu licença para entrar no quarto e então ela convidou eu e a Cris para ir num culto que seria realizado no 8º andar.
Quem me conhece sabe que não tenho religião, apenas acredito em Deus e minha fé é “caseira”, rsrs. Mesmo assim, aceitei o convite da senhorinha, queria sair um pouco daquele lugar e literalmente foi somente essa oportunidade bateu na minha porta. A senhorinha me acompanhou até o 8º andar e depois não vi mais ela. Quando entrei no auditório que iria acontecer o culto, ele já estava bem cheio, sentei na frente de uma mãe com duas crianças. Foi interessante, cada pessoa daquele auditório era de um lugar diferente do HC e portanto, tinha uma patologia diferente. Quando olhei para o senhor que iria comandar o culto (desculpem, não sei como nomear isso, rsrsrs), eu me assustei. Juro que achei que estava na minha frente o Robin Willians e para ser o Patch Adams só faltava o nariz, já que ele estava de jaleco branco. Meu Deus, pena que estava sem o meu celular, senão faria questão de tirar uma foto, o senhor é idêntico ao Robin, impressionante.
Passado esse impacto, ele iniciou o culto e seria assim, ele cantaria e tocaria um violão e nos intervalos de cada música ele falaria algo brevemente. Uma das musicas me chamou a atenção, foi a mesma que minha vizinha teima em ficar cantando com toda força do pulmão dela e justamente nos momentos que estou tentando estudar, é impressionante, parece até que ela sabe, rsrs. Voltando ao culto, dada essa coincidência da música eu resolvi prestar mais atenção na letra e a danada da musica é bonitinha até. Acho que o nome dela é BARQUINHO, não tenho certeza.
Enfim, da metade do culto até o final, as duas lindas crianças que estavam atrás começaram a chutar meu banco… chutou uma… chutou duas… chutou três vezes… e assim, eu ia para frente e os pontos da cirurgia acabavam dando umas fisgadas. O engraçado é que geralmente nessas horas eu já iria me levantar e dar uma bronca na mãe que não controla os filhos dela, só que dessa vez eu fiquei na minha, ainda mais depois que a mãe chamou um deles de Lucas. Eu tenho um loooooongo histórico com crianças chamadas Lucas, aí já entendi que tinha que aguentar e ficou por isso mesmo.
Quando o culto acabou, não achei a senhorinha, ela havia me dito que me acompanharia de volta. Eu já estava apertada para ir no banheiro, resolvi não esperar e voltei sozinha mesmo.
E praticamente depois disso o domingo foi morno, até claro, chegar a noite.
Quando eu estava quase indo dormir uma enfermeira entra no quarto com uma bomba de infusão e um soro de 1 litro com medicamento. Eu pensava que era para Cris, já que as vezes ela tomava algum medicamento nessa bomba. Só que dessa vez era comigo. O medico receitou potássio porque o meu estava muito baixo. Claro que fiquei com medo, porque até eu descobrir pra que era, a Dna. Neura marcou presença mais uma vez.
Eu tive que ficar 4h ligada nessa bomba de infusão, era 2h da manhã quando finalmente terminou e quando pensei que iria dormir, a enfermeira chegou com mais 1 litro, dessa vez era só soro. Meu sódio também estava baixo. E mais uma vez seriam 4h para infundir esse soro, já nos primeiros minutos senti minhas mãos incharem e minha perna direita também, do joelho para baixo. Chamei a enfermeira, esta chamou o plantonista e este examinou e ficou por isso mesmo. Dada as 4h, já tinha que começar com toda a rotina novamente. Eu só consegui dar uns cochilos.
Conclusão: Nunca sentem na frente de crianças, rs.

Resumo técnico do dia:
– Sem dores.
– Pontos vazando muito pouco, mas ainda vazando.
– Perna direita levemente inchada.
– Tomei potássio e sódio.
– Suspenderam o diurético injetável, irei tomar somente em comprimidos.
7/3 É hora de dizer tchau…
Após a rotina matinal e a preocupação sobre as bolsas de potássio e sódio que foram infundida, eu notei que as mãos desincharam, contudo, minha perna direita, principalmente o pé, estava bem inchadinho.
Minha mãe havia vindo pela manhã, adiantado a visita que é das 15h até as 17h, então era 12h e nada mais iria acontecer. Como ninguém havia falado de alta hospitalar, ela foi embora.
Quando foi 15h o cirurgião que fez o transplante, o Dr. Éder (acredito que não seja com H), apareceu e quis me examinar e perguntou se eu tinha assinado um termo no momento do transplante, eu disse que não, mas na verdade tinha, é que não lembrava. Então ele todo feliz me deu umas folhas para assinar e perguntou se eu estava feliz em saber que iria para casa. Eu fiz cara de coxinha pra ele, eu nem sabia que estava de alta e disse isso para ele, então ele disse que da parte dele eu já estava de alta, mas ele iria confirmar com o Nefrologista.
Algumas horas depois chegou a confirmação e começaram a me preparar. Pediram para eu chamar um familiar, tive que conversar com a nutricionista e só faltei implorar para meu médico vir me esclarecer umas dúvidas, que com todo tempo livre, fiz uma lista de perguntas para não esquecer nenhuma.
Com tudo resolvido, meu irmão chegou para me buscar e tivemos uma breve aula de como tomar os medicamentos em casa e alguns outros cuidados básicos como lavar sempre a mão, evitar contato com pessoas doentes e jamais atrasar com os horários dos remédios.
Com o acesso venoso retirado, um saco de remédios e um monte de bagulhos em duas sacolas eu me despedi da Cris (foi meio emocional demais essa parte) e parti para casa.
A volta para casa foi muito esquisita. Foi bem diferente do que eu havia imaginado que seria, tanto que acabei chorando no carro e dando uma “patadinha” no meu irmão.
Ao chegar e ver meus pais e a minha cachorra, eu senti uma responsabilidade imensa em fazer tudo isso dar certo, eles estavam felizes, só que por algum motivo, eu não estava tão feliz assim.
Sentei um pouco na sala e meu pai reparou na minha perna e perguntou porque estava tão inchada, eu olhei e assustei, estava praticamente o dobro do inchaço do que quando ainda estava no hospital. Estava horrível, se achar a foto que tirei das minhas pernas eu coloco aqui numa próxima atualização.
Já era mais de 22h e eu queria ir dormir. Mas quem dorme tendo que correr pro banheiro a cada duas horas???
Conclusão: Despedidas são tristes e em hospitais é fácil se apegar nas pessoas.
Resumo técnico do dia:
– Pé e perna direita inchada.
– Livre de penduricalhos no corpo.
– Alta hospitalar!!!
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O transplante – Parte 06.

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04/03 – Hora de começar a subir…
Depois da aflição do dia anterior finalizada com felicidade ao conseguir urinar sozinha, eu fiquei muito mais tranquila, apesar de correr pro banheiro de hora em hora, foi de verdade uma alegria.
Eu fiz 6 anos de hemodialise e no ultimo ano não urinava mais, o que tinha que sair, só sairia na diálise, não tinha jeito. Com isso a bexiga foi atrofiando por não ser mais usada. Como ela ficou muito pequena, qualquer liquido que eu bebia em pouco tempo eu tinha que ir ao banheiro, porque ela enchia muito mais rápido que o normal por ter pouco espaço. O médico me orientou que conforme o tempo for passando a bexiga vai voltando ao tamanho normal e os intervalos de idas ao banheiro vão diminuindo.
O dia foi muito tranquilo, nenhum exame bizarro para fazer, só fiquei à toa no quarto, quando cansava ia caminhar ou conversar com os vizinhos de quarto. Como a Cris não havia passado muito bem a noite, tendo inclusive que tomar morfina, eu evitei ficar fazendo barulho e preferi ficar conversando com qualquer um que encontrasse do lado de fora.
Vi mais uma pessoa indo para o transplante. Um homem que acredito que tenha uns 50 anos, ele estava tranquilão, coisa de dar inveja, mas é isso, cada um reage de um jeito.
O dia demorou a passar, mas foi tão tranquilo que até tive sorte de receber uma janta comível, rsrs, e essa foi minha primeira refeição no hospital.
O meu médico passou cedo e finalmente me deu alguns valores, disse que minha creatinina de 9 (quando entrei para cirurgia), tinha caído para 7 após a cirurgia e agora estava em 5, que ele estava esperando mais uma queda sequencial para me dar alta e que tudo levava a crer que seria na segunda feira.
Conversando com as enfermeiras, uma me disse que o protocolo de alta hospitalar do HC para transplantados renais acontece quando o paciente apresenta 3 quedas seguidas de creatinina no exame e não apresenta nenhuma infecção ou dor aguda.
Já sabendo que iria passar o final de semana lá, eu relaxei, resolvi continuar seguindo as orientações da equipe. A noite chegou e eu consegui dormir razoavelmente bem.
Um detalhe que não posso deixar de citar é que todos os dias da internação eu alternava de humor, mas mesmo com boas noticias e sem praticamente dor alguma, eu ficava entre e triste e o muito triste.

Resumo técnico do dia:

– Foi o primeiro dia que não colheram nenhum exame de sangue.
– A queimação no estômago seguiu firme e forte, nenhum remédio era efetivo, melhorava por algumas poucas horas e depois retornava.
– Tentei ficar sem curativo, mas sempre que sentava tinha que tomar banho e trocar o avental, pois sujava um pouco, depois da terceira troca desisti e pedi para fazerem um curativo.

5/3 – Contrabando de comida…
Depois de toda saga, de ficar em uma gangorra emocional louca, o que mais estava incomodando no momento era a fome.
Eu aproveitei que meu irmão e minha cunhada viriam me visitar e pedi umas tranqueirinhas para comer. Não era nada demais, a maioria integral, é que não conseguia comer nada do hospital com exceção das bolachinhas e torradas.
Queria mesmo era um belo almoço, mas entrar com comida no hospital era quase impossível, além do que, comida fria ninguém merece.
Claro que minha peraltice teve efeito. Minha glicose aumentou e com isso me aplicaram insulina. Eu fui pega de surpresa, de repente aparece a enfermeira com a seringa e zap no braço. Por ter meu pai diabético e dependente de insulina, eu fiquei chocada, mas depois o médico me acalmou dizendo que a insulina era para baixar a glicose mais rápido, que não era indicado no momento eu tomar medicação oral para baixar a glicose.
Mas de coração, não me arrependi do contrabando, eu estava faminta e me senti até mais forte depois de comer algo com um pouquinho mais de sal. Eu que sempre tive a pressão arterial baixa, quando ficava sem se alimentar dava fraqueza danada.
Não aconteceu nada de muito significante no dia, as noticias são sempre as mesmas.
Resumo técnico do dia:

– O estômago deu uma melhorada, acho que era falta de comida, rsrs.

– Ter que beber muita água sem estar com sede é algo que estava difícil de fazer.

– Fiquei o dia inteiro sem curativo.

– O tédio começou a bater forte, já que não tinha absolutamente nada para fazer e os médicos não gostavam de ver a gente muito tempo na cama. O jeito foi ficar no corredor do lado de fora da ala do transplante, assim sempre dava para orientar as pessoas que estavam perdidas, alias, foi o que mais fiz nesse dia.
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O transplante – Parte 05.

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Olá pessoal.
Peço desculpas por ter interrompido as postagens, eu estou no ultimo ano da faculdade e conciliar o transplante + exames + consultas regulares + estudos, ocupou muito do meu tempo, como eu gosto de fazer as coisas o melhor possível, não conseguia dedicar atenção suficiente para meus relatos. Agora que estou de férias, vou tentar colocar em dia tudo que aconteceu.

03/03 – Aliviando umas coisas… Complicando outras…
Umas das muitas condutas pós transplante lá do HC é retirar a sonda no 5º dia pós cirúrgico, eu nem preciso dizer que acordei ansiosa achando que isso aconteceria logo pela manhã.
Quem me conhece bem sabe que eu simplesmente detesto todas as quintas-feiras, é algo meio “místico”, mas tudo que pode acontecer de ruim comigo, geralmente acontece em uma quinta. Porém, desta vez tinha esperança de mudar esse padrão.
A manhã começou típica, verificação dos sinal vitais, ir me pesar, tomar os imunos, tomar café e banho.
Tudo isso e ainda era 9h da manhã, horário que geralmente começa a movimentação dos médicos pelos corredores.
Como de costume, estava sentada na cadeira até eu avistar meu medico e ele me avistar. O quarto que eu fiquei fica quase de frente para a sala onde os médicos se reúnem, então eu conseguia monitorar todos movimentos deles (a doida do 7º andar, hahaha). Acho que o meu médico percebeu e toda vez que passava não olhava pro meu quarto… “ignorada mode on” hahahahaha…
Eu torcendo para ele parar e me dar uma atenção para ao menos avisar que iram tirar aquele troço do meio das minhas pernas e fui completamente ignorada a manhã toda.
Chegou o almoço (pior que horrível) e nada de médico. Pra ajudar nenhuma enfermeira sabia se iriam “sacar” a sonda. Eu cansei de ficar no quarto e comecei a andar pelos corredores, me aventurei do lado de fora e fui pra ala da urologia, que é simplesmente divina, um luxo puro. Depois enjoei e fui para a ala da cirurgia vascular e para a ala da endocrinologia também. A titulo de curiosidade, no 7º andar são 5 alas, tem a Urologia, o Transplante Renal, a Nefrologia (que esta em reforma para ficar chique igual a urologia, então estava fechada), tem a cirurgia vascular e a endocrinologia. Fiquei vagando igual uma zumbi, arrastando o “cachorrinho” com a sonda de um lado para o outro.
Meu celular havia pifado, então estava sem comunicação, sem distração, sem coisa alguma para fazer, então vamos gastar o chinelo, cruzei com alguns desconhecidos, orientei vários perdidos e ouvi algumas breves historias.
A tarde chegou, eu cruzei com o meu medico no corredor, que só disse pra eu pegar leve na caminhada, quando eu ia perguntar da sonda, ele deu as costas (¬¬’) e entrou no elevador.
Já havia desistido da ideia, estava escurecendo e finalmente as 20h quando a equipe de enfermagem trocou de turno, a enfermeira chefe apareceu e disse que iria sacar finalmente a sonda. *Fogos*, *Tiros de Canhão*, *Musica de Festa*.
Ok. Boa noticia. Só que… será que tirar essa geringonça dói? Pensei comigo mesma.
Aí eu não sabia se ficava feliz ou se ficava preocupada. E enquanto esperava a enfermeira trazer os aparatos a ansiedade aumentava. E se quando tirasse a sonda eu não conseguisse urinar sozinha??? E se ao tirar a sonda, desfizesse algo lá dentro? Tipo, entrei em modo neurótico extremo, aí já não queria mais tirar a sonda, hahahahahaha.
Depois de mais de uma hora de espera, finalmente chega o grande momento.
Eu tive que ficar deitada só que eu queria muito ver como era o processo pra tirar e o que tinha na parte de dentro. Foi um misto de medo e curiosidade, mas a curiosidade venceu e eu fiz um famoso pescoção pra ver, hahahaha… Só que foi muito rápido, numa piscadela e já estava livre daquele incomodo.
Depois que tirei a sonda eu queria mais era um super banho, porque pessoas, por mais que você se limpe o tempo inteiro, tome 20 banhos diários. VOCÊ SE SENTE SUJA. É uma porcaria isso!!!
Fui tomar meu banho feliz da vida, ahhhhhh liberdade!!! Maravilha!!! Só que então eu percebo, poxa, não tenho vontade de urinar, será que vai demorar para isso acontecer??? Aí claro, fiquei preocupada…
Percebam o monstro neurótico em que eu me transformei depois desse transplante, rsrs.
Já tinha passado umas 2h e nada de vontade de urinar, eu perguntava para Cris (coitada acho que cansou de ficar ouvindo minhas indagações, hahahaha), perguntava para enfermeiros, até para um médico que nunca vi na vida, tive que parar e perguntar, mais uma vez, todo mundo falando que era super normal, mas acho que Jesus poderia se materializar na minha frente e me falar que era normal que eu não ia acreditar, o fato tinha que acontecer para eu me acalmar.
Já estava dando quase 3 horas que estava sem a sonda, então senti uma leve dor na região da bexiga, corri pro banheiro rezando mentalmente para acontecer.
A partir do momento que me tiraram a sonda, deixaram no banheiro uma comadre e uma vasilha com meu nome, eu teria que fazer o controle de tudo que urinasse, não poderia perder nada. Olhar para aquela vasilha vazia estava me deixando angustiada.
Não consegui fazer nada. Eu sentei no canto do box do banheiro e comecei a chorar. Não só pelo fato de passar pela cirurgia ou de ser tudo desconhecido, eu estava emocionalmente desgastada. Ver pessoas doentes, pior do que eu via na hemodialise, pessoas que diziam que dariam tudo para estar no meu lugar e pensar que eu pensava o mesmo das pessoas que não fazem ideia do que um DRC enfrenta, como eu queria estar em casa estressada com os problemas comuns, mas não, estava lá sozinha, dentro de um banheiro, sem saber o que mais poderia vir pela frente. Medo, angustia, tristeza, eu baixei minha guarda e deixei todos esses sentimentos me levarem.
Fiquei alguns minutos no box, como se fosse o fim da linha, eu realmente estava sentindo isso.
Não no sentido que iria morrer, nem me importando naquela altura se o transplante não desse certo. De verdade se não desse, era só voltar para a hemodialise. O pior foi perceber o rumo que minha vida tinha tomado. Eu que nunca quis parar de fazer as coisas, quis trabalhar, estudar, quis evoluir mental e moralmente, já que a parte física não dependia mais de mim. Eu comecei a me questionar que nenhum dos sacrifícios que tinha feito nesses 6 anos valeram a pena. E que aquele momento não era o meu BOOM (um momento crucial de mudança de vida, tipo quando você compra uma casa ou é promovido para um cargo que estava lutando por ele há tempos… enfim, coisas que não acontecem sempre, que na verdade são momentos raros e preciosos).
Depois de bitolar em pensamentos trágicos, respirei fundo, me levantei, lavei o rosto me olhei fixamente no espelho e mandei um sonoro FODA-SE. Já estava lá, o que tivesse que acontecer, iria acontecer. Sai do banheiro de peito erguido (apesar de estar mentalmente ferida por dentro, jamais demonstraria isso, principalmente para desconhecidos). Fui dar mais uma volta no corredor e cruzei com uma menina entrando na ala do transplante, pois ligaram para ela naquele instante. Estava ela e mais cinco pessoas acompanhando ela. O olhar dessa menina era bem assustado e essas cinco pessoas que estavam com ela, eram só festa. Vi semelhança. Ali percebi que não era a única maluca.
Desfoquei da menina e continuei meu rumo aos corredores, que naquele momento estavam desertos. Após 30min caminhando, mais uma dor na bexiga, dessa vez, fingi que não tinha sentido nada, continuei caminhando. A dor foi aumentando cada vez mais, até chegar um ponto que estava bem forte a ponto de eu achar que deveria pedir um remédio. Claro que antes, um pouco contrariada, voltei para o banheiro. A Cris já estava dormindo, então tentei ser o mais silenciosa possível. Era aproximadamente 23:50 quando o milagre aconteceu. Finalmente consegui urinar sozinha, e até que não tinha sido pouco pra quem estava com a bexiga atrofiada, foram 200ml. Chorei novamente, dessa vez de alivio. Após isso, me preparei e fui dormir, amanhã seria outro dia. O problema, é que tive que acordar de hora em hora para correr no banheiro. Sim senhores, por minha bexiga estar pequena, ela enchia muito rápido. Eu praticamente não dormi.
Conclusão: Antes de corres atrás de um transplante, aprenda a meditar, porque autocontrole é algo essencial para não pirar no pós cirúrgico.

Resumo técnico do dia:
– Tirei a sonda.
– A queimação no estômago continuou e se tratando da parte física do processo, essa foi a coisa que mais incomodou até então.
– Não tive nenhum tipo de dor, além da queimação do estômago.
– Meu curativo continuou vazando um pouquinho.
– Fiquei andando pelos corredores o dia todo.
– O medico não passou, contudo, a enfermeira avisou que tudo estava dentro do esperado e em breve eu iria ter alta.

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O transplante – Parte 04.

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02/03 – Um dia de fúria…

Desde o dia do meu transplante o  meu intestino estava preso.
Medicamentos para dor costumam causar esse efeito e eu já havia reclamado com o medico que prometia que iria prescrever um remédio para ajudar, mas até então, não havia tomado nada.
Eis que acordo com aquela sensação de urgência, mas para quem está a tanto tempo assim sem se resolver, só podia esperar pelo pior.
Do momento que eu acordei até a hora do almoço, foram várias tentativas inúteis, estava ressecada demais. Pedia para as enfermeiras ajuda, algum remédio, até mesmo algum procedimento que pudesse me ajudar, tamanha era a dor e a vontade. A manhã inteira ouvi que o medico iria prescrever algo, mas nada apareceu para ajudar. Até que perdi a paciência e comecei a esmurrar a porta do banheiro, foi proposital, estava me sentindo negligenciada ali. E para ser honesta, esse dia eu realmente fui. Ninguem deu importância.
Após começar causar dentro do quarto, resolveram prestar mais atenção em mim, o que é super chato, ter que chegar a esse ponto para ser atendida.
Em 15 minutos apareceu o tal remédio. Um xarope que me pareceu muito inocente para resolver o problema.
Tomei o xarope meio desacreditada e continuei ali, monopolizando o banheiro nas minhas vãs tentativas.
Sem brincadeira, uns 10 minutos depois que tomei o tal xarope inocente, eu senti uma movimentação no abdome, parecia que tinha um alien dentro da minha barriga. O pior é que a cada movimentação, eu sentia forçar os pontos da cirurgia. Essa movimentação foi aumentando de intensidade e ali eu percebi que o estrago ia ser grande, rsrsrs.
Em menos de uma hora que havia tomado o xarope inocente, estava suando frio, tentando resolver e a dor era tão grande, que pensei que jamais iria conseguir. A Cris querendo me ajudar, me ensinou até uma simpatia, rsrs, eu estava topando qualquer coisa para resolver isso de uma vez.
Depois de suar muito (meu avental ficou lavado de suor) e forçar por muitos minutos, finalmente consegui. Mas foi com certeza a maior dor que senti durante a minha internação. Depois da primeira vez, meu intestino desembestou. Chegou o almoço, chegou o lanche da tarde e eu ali presa no banheiro, não conseguia sair, hahahaha…
Minha mãe chegou para visita e teve que ficar no banheiro comigo, porque eu simplesmente não saia de lá, não conseguia.
Depois de algumas horas e vários banhos, o meu intestino resolveu descansar, mas já era final de tarde quando consegui sair do banheiro. Curiosa, fui me pesar. Havia perdido 3 dos 6 quilos que havia ganhado desde o transplante. Estava exausta e morrendo de dor já que havia forçado muito os pontos. De verdade, acho que as linhas eram de Adamantium para não terem estourado.
Minha mãe já havia ido embora e eu estava sem graça com a Cris por ter monopolizado tanto o banheiro, resolvi ficar andando pelos corredores só para não ter que ficar constrangida perto dela.
Neste dia não consegui fazer a medição da urina, então não fazia ideia de como estava o rim. Angustiada, fiquei esperando o médico dar noticias, queria saber como estava os exames que eles sempre colhem pela manhã. Depois de muita espera ele aparece e diz o mesmo discurso “esta tudo dentro do esperado, a creatinina vem caindo”.
Em alguns pontos da cirurgia, ainda estava vazando um pouco de sangue e uma água clarinha e sem cheiro, como nunca havia passado por uma cirurgia desse porte, estava morrendo de medo de ser uma complicação grave. Já era para eu ficar sem curativo, mas devido a esse vazamento, eu tinha que trocar o curativo de tempos em tempos, o que era ruim, porque além dos pontos, as fitas do curativo limitavam meus movimentos.
A janta chegou, horrível para variar, deixei de lado e peguei somente a fruta.
Já estava me sentindo fraca, o fato de não me alimentar direito só piorou a situação.
Como a dor estava forte, chamei a enfermagem e pedi um remédio para dor. Elas sempre pedem para numerar a dor de 1 a 10, eu disse 11, realmente queria um remédio forte. Em pouco tempo, trouxeram um soro com a medicação. Como sabia que iria dormir com esse remédio, já tinha me preparado para só acordar no dia seguinte. E assim aconteceu.

Resumo técnico do dia:
– Ainda com queimação no estômago, talvez seja falta de alimentação + medicamentos.
– Não tive dor relacionada a cirurgia.
– Meu curativo vazou bastante, principalmente quando fiquei sentada.
– Não andei muito hoje.

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O transplante – Parte 03.

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01/03 – Um passo por vez
A terça chegou e como de costume fomos acordadas (eu e a Cris) às 6h da manhã. Aferida a Pressão, batimento cardíaco e o destro, ficamos em paz novamente. Geralmente voltaria a dormir até as 8h quando a enfermeira aparece com os imunossupressores, mas dessa vez eu estava mais animada.
Sem dores significativas, apenas algumas fisgadas quando sentava ou levantava da cama, eu fiz minha primeira caminhada para me pesar pela primeira vez, toda manhã antes de tomar café era necessário andar até a balança para se pesar. Como já tinha pegado o esquema com minha irmã de quarto, a Cris, peguei o suporte de soro e coloquei a sonda pendurada nele e tentei dar meus primeiros passos sozinha. A sensação quando muda a sonda de lugar é muito esquisita, quanto mais próxima do chão ela ficar mais confortável é, mas até eu entender isso, eu fiquei andando com essa sensação bizarra, como se a bexiga estivesse cheia. Como estava na cama há 3 dias praticamente, eu comecei andar como se tivesse bebido todas na noite anterior, estava totalmente sem equilíbrio, mas fui firme no objetivo de ir me pesar. Meu quarto ficava a uma distancia considerável da balança, dando passinhos de formiga, cheguei na bendita e subi. O primeiro susto do dia, eu havia ganhado 6 quilos durante o transplante.
Voltei pro quarto cambaleando, o rim transplantado parecia que pesava uns 3 quilos, a sensação de ficar em pé com algo dentro da barriga que não estava lá antes é difícil de definir, eu sempre que dava um passo parecia que iria tombar para frente.
No quarto havia apenas uma cadeira, então eu e a Cris começamos a revezar nela, mas como eu ainda não estava com muita confiança para ficar sentada, eu preferia levantar toda cabeceira da cama e ficar sentada nela. Isso chateou os médicos que diziam que tinha que sentar na cadeira e não ficar só na cama… Então que ao menos colocassem DUAS cadeiras no quarto, né?

A mocinha (não peguei o nome dela) que colhe o exame de sangue logo cedo apareceu, foi feita a coleta de 6 tubinhos e uma seringa para gasometria.
Meu destro começou a ser medido 4x ao dia, minha glicose estava começando a alterar. Segundo todo os profissionais de saúde que conversei (médicos, enfermeiras e técnicos), isso era devido aos imunossupressores, porém, sempre que interno minha glicose sobe, então eu fiquei com um pé atrás com isso.
Antes do café as técnicas aparecem para trocar a cama e fornecer o necessário para tomar banho e dar os imunos. Eu mais que depressa peguei minhas coisas, o avental limpinho e corri para o banheiro, não ia deixar ninguém dar banho em mim. Contudo, ainda estava com receio de ficar sozinha dentro do banheiro, eu não tinha ficado muito tempo em pé, sentia minhas pernas fracas.
Com fé e coragem, entrei no chuveiro. Com ajuda da agua quente fui removendo o curativo. Mais uma vez uma aflição tremenda, conforme o micropore ia descolando da pele, eu olhava para o teto tentando ganhar coragem para puxar aquele negocio de uma vez. Mas não consegui, ele caiu sozinho. Percebi que em apenas uma parte pequena do curativo estava suja de sangue.
O banho foi bem esquisito, o chuveiro era bom, mas mesmo depois de ter terminado eu não me senti limpa.
Vesti o avental errado e saí do banheiro para pedir ajuda para alguém arrumar a caca que fiz com o avental. Minha sorte é que o avental era grande, então cobriu tudinho.
Sentei na cadeira enquanto a Cris descansava na cama, não gostei da sensação, parecia que meus pontos iriam estourar. Fiquei esperando meu medico passar para ele ver que estava sentada e depois que ele passou, corri para a cama, rsrsrs.
O almoço veio, horrível, dispensei, peguei a maçã da noite anterior que não havia comido e tracei ela.
Quando se esta no hospital não se tem muito o que fazer, é bem entediante mesmo. Por algum motivo ainda estavam me dando medicamentos fortes para dor, então eu tirava alguns cochilos prolongados.
O começo da noite veio e como prometido, a fisioterapeuta apareceu. Dessa vez eu topei caminhar com ela.
Ela pegou leve até, eu pensei que ela iria caminhar comigo pelos corredores afora da ala do transplante renal, mas eu andei somente pela ala mesmo. Ela disse que ficou feliz, eu parecia mais disposta, mas poxa vida, eu estava no terceiro dia ainda, TERCEIRO!!! Eu já tava achando muito… povo exigente, rsrsrs…
Após o passeio com a fisioterapeuta, ela me ajudou a sentar na cadeira do quarto e foi embora.
Depois de alguns minutos sentada o curativo não deu conta e acabou vazando um pouco, mas o suficiente pra eu ficar preocupada e bem triste, então toda a evolução que tive no dia foi pro ralo. E então mais uma noite indo dormir chorando.

Resumo técnico do dia:
– Urinei 600ml, menos que o dia anterior o que me deixou preocupada.
– O medico mais uma vez avisou que a creatinina havia caído um pouquinho mais, sem revelar o numero.
– Não senti dor, somente o estômago ainda estava queimando bastante.
– Passei o dia mais sentada que deitada, mas depois que o curativo vazou, perdi a coragem de sentar e fiquei deitada.

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O transplante – Parte 02.

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29/02 – O dia seguinte.
Acho que esse é o dia que eu menos me recordo de todos.
Fiquei o dia todo na cama com um medo danado dos pontos romperem.
Não consegui almoçar, alias, a comida do hospital é horrível devo confessar. Dos 8 dias de internação só consegui fazer duas refeições, um almoço e uma janta. Passei a internação à base de frutas e torradas praticamente. Até começar “contrabandear” comida, mas isso foi no 7º dia de internação, peguei a malícia da coisa um pouco tarde, hahaha…
Como estavam me dando medicações fortes, eu mais dormi que fiquei acordada, sei que passei o dia todo com frio, quando acordava minha única preocupação era saber se havia urina na sonda.
Lá no HC o horário de visita é das 15:00 às 17:00, então estava ansiosa para chegar logo as 15:00 e ver minha mãe, porém, justamente no horário da visita me buscaram para fazer o ultrassom. Eu fiquei muito, mas muito irritada com isso, além do medo, porque imagina um ultrassom em cima de uma cirurgia que tem menos de 24h que aconteceu. Só que não tinha opção né, então desci para o InRad fazer o tal do ultrassom.

Era a primeira vez que iriam tirar o curativo, eu estava em pânico, não queria que ninguém encostasse em mim por um ano, hahahahahaha… Agora eu dou risada, mas eu juro que fiquei muito Drama Queen nesse dia.

Após esperar um tempo considerável me levaram para a sala de ultrassom, a enfermeira chegou para me preparar e já foi puxando a fita para tirar o curativo. Me deu uma aflição danada, me senti um pouco violada, hahahaha… Fiquei lá, exposta, aguardando alguém para fazer o exame. Depois de mais algum tempinho chegou a médica, que devo detalhar, ela foi super delicada, passou o aparelho bem suavemente, o único problema é que ficou fazendo uma cara seria, parecia que ela estava vendo algum problema. Depois de acho uns 30m (eu realmente perdi a noção do tempo lá), ela finalizou, mas disse que iria conversar com o professor dela. Alí eu gelei. Depois de mais algum tempo, aparece a Dra. com o professor dela que já sentou na cadeira e pegou o aparelho e foi com gosto em cima da cirurgia. Para ser honesta não doeu, porque a região estava meio anestesiada ainda, mas a aflição foi MUITAAAAA. Ele colocou tanta pressão que eu acho que ele ia atravessar minha barriga com aquele aparelho. O engraçado é que ele agia como se fosse a coisa mais tranquila e normal do mundo. Eu me senti um nada ali, fui totalmente ignorada, ele só falava com a outra Dra., explicando como ele fazia para enxergar as coisas. Ali eu me dei conta que era apenas uma ferramenta de estudo, e tudo bem, afinal lá é um hospital escola, nada mais natural, HOJE eu percebo isso, no dia não foi bem assim. Voltando… Depois de ficar ouvindo termos técnicos, tanto sobre meu corpo, quanto do aparelho de ultrassom, ele disse que colocaria no laudo como um ultrassom de parâmetros normais. Apenas depois disso, ele resolveu falar comigo e perguntou quem havia me doado o rim. Quando eu respondi que havia sido doador cadáver ele ficou surpreso e disse que estava muito bom, parecia de doador vivo. Eu dei apenas um sorrisinho, estava tão cansada que queria voltar pro quarto o quanto antes, torcendo para dar tempo de ver minha mãe. Os médicos saíram da sala dizendo que chamariam uma enfermeira para me levar de volta para o 7º andar. Sem brincadeira, acho que fiquei esperando umas 2 horas alguém aparecer. Ficar em uma maca dura por mais de duas horas estando recém transplantada, meus amigos, não foi fácil.

Cheguei no quarto e lá estava minha mãe, já se passavam das 18:00, porém, foram flexíveis e permitiram que minha mãe fizesse o horário de visitas.
Só que eu mal sabia que iria passar por mais uma situação inédita. As enfermeiras queriam que eu tomasse banho, mas eu não conseguia nem descer da maca, quanto mais ficar em pé embaixo de um chuveiro… resultado? Banho de balde na maca. Eu deveria ter feito toda força do mundo e ido até o banheiro. Se fiquei com aflição do médico me cutucando com um aparelho, imaginem duas enfermeiras jogando agua e “esfregando” sabão pelo seu corpo, inclusive na incisão? Eu queria correr dali. Novamente comecei a tremer, as enfermeiras me vestiram e ajudaram a passar para a cama e me cobriram. Logo em seguida, chega a fisioterapeuta querendo que eu saísse da cama para caminhar com ela. Eu quase fui mal educada na resposta, mas disse que não conseguia sair da cama, ela insistiu um pouco, mas viu que não iria conseguir nada comigo aquele dia, mas prometeu voltar no dia seguinte, rsrsrs.
Minha mãe foi embora e depois de todas essas experiências eu fiquei me perguntando se havia valido a pena. Hoje eu reconheço que não passei por nada demais, mas como disse antes, eu estava entristecida e meio contrariada em relação a esse transplante. Passei o resto da noite chorando baixinho para não incomodar a Cris.

Resumo técnico do dia:
– Urinei somente 700ml, isso tomando diurético a cada 6h.
– O médico responsável informou pela primeira vez que tudo estava dentro do esperado e que minha creatinina começou a cair, mas não revelou os números.
– Não senti muita dor, o que mais incomodou foi uma queimação no estômago.
– Não quis sentar, levantar e comer.