Sem categoria

A primeira punção…

Tudo que acontece a primeira vez acaba sendo inesquecível.

O primeiro dia de aula
O primeiro beijo
O primeiro dia de trabalho

Para nós, com IRC
A primeira internação
A primeira sessão de hemodiálise
O primeiro dia na clinica
A primeira cirurgia
e claro que não poderia faltar: A primeira punção.

É engraçado como toda primeira vez as sensação que temos são parecidas: preocupação e receio.

Seguindo orientação do Dr. L., comprei o Emla, para passar no braço nas primeiras vezes que fosse puncionar, pois segundo a avaliação, minha fistula não estava 100% ainda.
Ao entrar no carro em direção a clinica, apliquei a pomadinha, e no caminho pensei muito positivo para que desse tudo certo.
Assim que cheguei na clinica, fui direto para a maquina de sempre, mas que no caso, decidiu não funcionar, rsrs, então depois de meia hora tentando botar ela pra funcionar, desistiram e me mudaram para a maquina reserva. Pensei comigo: “Lascou! Já passou muito tempo que apliquei a pomada…”, mas continuei no pensamento positivo.
A primeira punção, quem geralmente faz é a enfermeira chefe, no meu caso foi.
Assim que recebi a primeira picada, que doeu bastante por sinal, a enfermeira retirou a agulha, pois na hora infiltrou, como eu sou muito branquela, o menor hematoma do mundo você percebe, mas no caso, não foi o menor hematoma do mundo. A enfermeira puncionou um pouco mais abaixo, perto de onde foi feito a cirurgia da fistula, e lá pareceu não dar problema, então, para não estressar muito, ela resolveu puxar o sangue pela fistula e devolver pelo cateter, e assim foi. A diálise correu bem, foi desconfortável a posição, mas não doeu e não passei mal. A parte ruim aconteceu no fim.

Ao tirar a agulha para colocar o curativo, eu como era leiga, não segurei direito e em seguida, a técnica quis medir minha pressão, então parei de segurar a fistula e dei meu braço para medir, no que fiz isso, a fistula começou a vazar, e não vazou pouco. Nisso a enfermeira chefe estava passando e viu, correu me ajudar, só que acredito que ela apertou um pouco forte, pois onde ela havia puncionado e não usou, pois infiltrou, começou a vazar também, e meu braço começou a inchar de uma forma absurda, onde havia sido puncionado pela primeira vez, ficou parecendo um vulcão, a parte da punção um pouco rebaixada e em volta enorme. Começou a correria para chamar o medico, para pegar gelo, para me medicar, para avisar minha mãe que esperava do lado de fora, foi uma loucura só, mas eu não estava preocupada com o braço 2x maior que o normal, não estava preocupada com a dor, minha única preocupação era que a fistula estivesse parado, pois não estava sentindo ela. Enquanto a enfermeira rezava (sim, ela chegou a rezar), para meu braço diminuir de tamanho, eu chorava, mas não era de dor, mas de desespero de que minha fistula tivesse parado de funcionar, então a enfermeira chefe checou e falou que estava funcionando, é que o braço tava tão inchado que não dava para perceber mesmo.
Depois de ficar 1h30 a mais na clinica, fui liberada para ir embora.
Em casa, quase não conseguia fazer nenhum movimento com meu braço, fiquei a base de dipirona por dois dias, até que começou a baixar o inchaço.

Eis o resultado do meu braço:

Sem categoria

Primeiro dia na clinica…

Hoje foi a primeira vez que entrei na clinica para fazer hemodiálise. E justamente era o dia da festa de Natal deles.
Cheguei no começo da tarde na clinica, a sala de espera estava cheia, e eu como havia acabado de ter alta, ainda estava meio desnorteada com a vida fora do hospital, foram quase 20 dias de internação, sem conseguir ver a cara da rua, confesso que fiquei alienada, mas voltando, como estava cheio na sala de espera, começou a bater uma angustia, tinha muito idoso, que não parecia estar bem, não agüentei e caí no choro.
Nisso muitos acompanhantes vieram conversar comigo, explicar que uma hora iria melhor, que os primeiros dias são estranhos, etc, mas honestamente, eu estava brava, estava inconformada com a situação, não entendia por que alguns conseguiam rir ali dentro.
Agravei propositalmente o choro, pois sabia que assim, iriam me colocar para fazer a diálise o mais rápido possível, e então finalmente poderia ir embora e ver minha casa, minha cadela, minha família, enfim, meu porto seguro. Minha tática deu certo, não fiquei 10 minutos chorando na sala de espera e me chamaram, foi quando eu sentei pela primeira vez na cadeira (no hospital fazia na cama mesmo), ao lado de muitas outras pessoas na mesma situação.
Pensei que saindo da sala de espera as coisas iriam melhorar, mas a cabeça ajuda muito a aumentar os sentimentos ruins, e minha tática de chorar para fazer logo a hemodiálise, também serviu para me trazer muitos pensamentos desagradáveis, e não deu outra, já com o cateter ligado na maquina, comecei chorar mais ainda, foi angustiante, parecia que estavam jogando veneno na minha corrente sanguínea.
Eu fiquei num misto de tristeza e irritação, os técnicos apareciam para me consolar, e eu ouvia a voz deles bem longe, meus pensamentos estavam maiores que o “bla bla bla” deles.
Para deixar a situação mais bizarra ainda, do nada, surge um Papai Noel, eu olhei sem acreditar no que estava vendo, “que porcaria é essa?” pensei, e o Papai Noel rindo, distribuindo panetones, e eu querendo gritar, pois ali não era lugar para rir. Eu não conseguia parar de chorar. O Papai Noel se aproximou, sorriu pra mim, e eu devo ter feito uma cara tão brava pra ele, que praticamente saiu correndo da minha frente.
A enfermeira chefe, permitiu que meu irmão entrasse pra ficar do meu lado um pouco, ele com o maior carinho, tentando me acalmar, tentando me confortar, e eu cega de tudo, só dizia que não queria voltar mais ali.
Cheguei em casa, com muita vontade de chorar, mas segurei, estava exausta, queria tomar um banho e dormir, e foi basicamente o que fiz.
Aí eu percebi que iria existir muitas 1ª vezes na minha vida de agora em diante…
Sem categoria

A primeira Hemodialise…

Era 22:00 quando fui chamada para ir até a UTI fazer minha primeira Hemodiálise.
Eu não sabia o que esperar, não sabia se iria passar mal, não sabia se iria tomar anestesia e dormir, não sabia se iam aplicar mais remédios, se eu iria enjoar ou sentir dor. Coloquei na mão de Deus e desci com um sorriso na cara, mas um medo enorme por dentro.
Cheguei à UTI e vi uma maquina que pareciam essas maquinas caças níqueis, de cor azul, com umas mangueiras transparentes (que mais tarde eu iria apelidar de Wall-E), e a Cida, sentada ao lado da maquina, lendo meu prontuário.
Logo que cheguei, ela pediu para eu me deitar, mas não quis, preferi ficar sentada.
Então a observei ligando essas mangueirinhas transparentes no meu cateter, e programando a maquina de hemodiálise (Wall-E).  Ela colocou as bolsas de sangue que eu iria transfundir em cima da maquina, e antes de por para iniciar a hemodiálise, ela quis explicar o que iria acontecer, e só a partir daí que comecei a entender melhor o que estava acontecendo.
A Cida foi a primeira pessoa a ter paciência e profissionalismo de me explicar o que era de verdade a IRC e o que viria pela frente.
Ela explicou que geralmente quem é IRC não gosta muito de conversar.
Explicou que devido a Uréia alterada, pessoa com IRC tem tendência a ter mau hálito e se suar muito, cheirar mal, algo como se a pessoa estivesse urinado (pois a uréia é expelida pelo suor também).
Explicou que quando a Creatinina esta tão alterada como a minha, é comum ter alucinação (e eu tive!).
Explicou os tipos de diálises, a Peritonial e a Hemodiálise.
Explicou sobre a fistula, e a falou que provavelmente seria minha opção favorita, eu torci o nariz, hahahaha, mas ela estava correta.
Explicou tambem um pouco sobre o transplante.
Falou da rotina de uma clinica de hemodiálise, e que as pessoas que convivem em uma clinica de hemodiálise se tornam uma família, e ela tem toda razão.
Falou muita coisa, mas foram tantas informações que eu não consegui absorver todas logo de inicio.
Não se se foi as 3 horas direta de conversa, ou se foi meu otimismo, mas fiz a hemodiálise sem sentir mal estar algum. Como havia terminado a hemodiálise, mas ainda faltava uma bolsa de sangue para transfundi, eu fui para meu quarto e continuei recebendo a ultima bolsa através do acesso que me colocaram no primeiro hospital.
Dormi bem, pois o medico prescreveu Diazepan, nem vi o enfermeiro tirar a bolsa de sangue.