Olá pessoal, como estão?
Nos últimos meses eu conversei com várias pessoas que me procuraram pedindo ajuda/indicação de locais para tratamento, tanto na fase dialítica, quanto para o transplante, então resolvi contar porque eu escolhi me inscrever no Hospital das Clinicas de SP (FMUSP), ou melhor, porque eu cancelei minha inscrição no Hospital dos Rins e acabei indo para o HC.
Para quem leu as postagens anteriores sabe que logo no inicio (no segundo mês que descobri meu diagnostico), eu já corri me inscrever na fila do transplante, no momento só havia visto a possibilidade do transplante com meus pais e irmão. Sendo que meu pai já diabético e cardíaco não seria aceito e minha mãe e meu irmão possuindo tipagem sanguínea diferente da minha (puxei meu pai no O+, minha mãe e irmão são A+), também não iriam poder. Na época não existia transplante sem compatibilidade sanguinea, hoje já existe alguns casos no Brasil.
Eu fiz meu cadastro no Hospital do Rim, porém, foi tudo muito mecânico, não passei em consulta com nenhum profissional da saúde, nenhum mesmo, nem mesmo uma enfermagem. Só pegaram o laudo assinado pela clinica que atestava que precisava do transplante e pediram para ir em uma rua paralela em um laboratório colher sangue e, aguardar se não me engano 45 dias um telegrama com meu RGTA, só. Meu único contato em relação a fila do transplante no Hospital do Rim foi esse. E fiquei os dois primeiros anos esperando, ansiosa, olhando para o telefone torcendo para tocar e nada. Neste meio tempo eu via na clinica alguns amigos que faziam tratamento no HC e eram inscritos lá. E via que a conduta deles era um pouco diferente. Existia uma consulta inicial com Médico, Enfermeira, Psicóloga, Nutricionista e Assistente Social. O médico solicitava uma bateria de exames de sangue, praticamente te revirava para achar qualquer coisa que fosse. A equipe da enfermagem te orientava como proceder quando for chamada, a psicóloga Dra. Silvia, excelente profissional, fazia uma consulta prévia e se via necessidade, marcava retorno (passei algumas vezes com ela, rsrs). A nutricionista dava uma orientação básica da alimentação no pré e no pós transplante e a assistente social revia todo o caso e até mesmo se o paciente iria precisar de um cuidador durante a fase pós transplante, porque infelizmente existem bastante idosos abandonados doentes nesse mundo. Eu, após obter esse apanhado de informações, tomei coragem (depois de procrastinar uns meses) e troquei de hospital, eu queria ter certeza que não tinha problema algum para realizar o transplante e se tivesse algo, se fosse tratável, queria estar pronta.
Vantagens e desvantagens pessoais que encontrei no HC, comparando ao Hospital do Rim. Eu repito para deixar claro, são percepções PESSOAIS, não é regra nada do que escrever.
Desvantagens
– Localização, se eu levar em conta o tempo hábil que levaria para chegar no HC comparado ao Hospital do Rim, com certeza o Hospital do Rim ganharia.
– São muitas pessoas, e não é 40, 50 em consulta junto com você não… Beira a 100!!! E isso em um único especialista.
– Atendimento “cobaia”, algumas especialidades -não todas-, você é atendido por até 3 residentes na mesma consulta, e como eles estão aprendendo, após realizar seu atendimento eles precisam sair do consultório e reportar o caso ao responsável da equipe (geralmente o professor), e isso demora muito mais que o tempo da consulta, eu já cheguei a ficar 45m dentro do consultório sozinha esperando. E 98% dos pequenos erros cometidos, geralmente com as papelada como emissão de receitas, encaminhamento para outras especialidades e, outras coisinhas mínimas, são obra dos residentes, rs.
– Locais para “repouso”. Muitas vezes precisamos fazer exames (principalmente no pós transplante), e as vezes leva o dia inteiro, faz um, aí espera algumas horas para realizar outro, ou alguma consulta em seguida. Lá é extremamente desconfortável para fazer esses intervalos.
– Estacionamento caríssimo! De verdade, não vale à pena ir de carro lá, dependendo do tempo que você fica por lá, você pagar Uber (ou outro) ida/volta e ainda come algo, com o valor que gastaria só no estacionamento.
– Labirintos. Quem vai a primeira vez no HC (segunda, terceira…), geralmente se perde. A imensidão que é o Hospital das Clinicas é espantosa. Tanto que eu em uma época cheguei até pensar em desenhar um mapa interno, onde fica o consultório de todas as especialidades e vender na frente por R$0,10 só para garantir um lanchinho, hahahahaha. Já me perdi um bocado de vezes e não conheço nem 10% daquele lugar.
Vantagens
– A primeira vantagem que poderia citar é que TEM TUDO, lá tem a maior gama de especialistas da América Latina, a maior diversidade de maquinas para exames, é a maior e melhor formadora de médicos do país. Tem um doença raríssima? É pra lá que você vai.
– Hospital escola, por mais que tenha colocado como desvantagem o atendimento “cobaia”, geralmente é uma vantagem. Eu acho os médicos residentes na maioria das vezes mais atenciosos no atendimento. Como eles estão sedentos por conhecimento, eles investigam mais, perguntam mais, te “desbravam” mais. Acho um barato quando vou para algum ultrasom, geralmente também realizado por algum residente e, eles acabam olhando mais do que devem enquanto esperam o médico responsável aparecer na sala. Tanto que a descoberta da minha pedra na vesícula foi uma “garimpada” inocente de um residente. As vezes estou em um ultrasom cardíaco ou outra localização que não é o abdômen, quando falo que transplantei, eles metem o aparelho na barriga para curiar.
– Tratamento centralizado em um único lugar. Atualmente eu passo lá nos seguintes especialistas: Urologia (claro), Osteodistrofia Renal (cuida do meu PTH), Cirurgião geral (to na espera da retirada da vesícula), Cirurgião da Urologia (ele acompanha a cirurgia do transplante), Dermatologia (faço laser, porque meu rosto tá vermelhinho por causa da rosácea) e Ginecologia. Eu já passei no dentista e no otorrino de lá também. O legal é que muitas das especialidades já estão informatizadas, então as especialidades estão conseguindo “conversar” durante o tratamento.
– Muitos dos medicamentos receitados pelos médicos são produzidos lá mesmo e, com certeza absoluta, se lá faltar algum remédio para o transplante, é sinal que não tem esse remédio em local nenhum desse país, afirmo categoricamente que lá seria o ultimo local que faltaria os imunossupressores no Brasil. As vezes você não recebe os remédios necessários até o dia da próxima consulta, então você recebe uma outra data para buscar novamente as medicações, faltar é bem difícil. Existe também a opção de receber eles em casa.
– Comida BBB, no restaurante do piso S1 do prédio dos ambulatórios, existe um Prato Feito e também um Self Service, e digo, lá você tem comida boa (tempero adequado, balanceamento de sal ok, etc), bonita (você percebe que os mantimentos usados são de qualidade) e barata (gasto geralmente R$7, R$8 em um almoço com suco incluso, isso no Self, já que não gosto do PF, porque 99% das vezes vem feijão e eu detesto). As lanchonetes que existem nas redondezas já não são baratas mas, servem comidas, lanches e tranqueiras deliciosas também.
– Te transforma em uma pessoa mais fraterna, eu explico. Lá no HC você é apresentado para tudo que é tipo de pessoa, existem todos os tipos mesmos. A maioria são os “na deles”, que não falam, não prejudicam o atendimento, porém, se ver alguém precisando não se mexem também. Existem os burros bravos, aqueles que estão errados mas, querem ser atendidos primeiro, querem que o médico receite medicamento que eles querem e pronto. Tem os bem humildes, que as vezes não tem nem alfabetização e, também tem os com problemas de saúde bem incomuns, que são fisicamente perceptíveis. É impossível (a não ser que seja uma pessoa apática), conviver lá por tanto tempo quanto eu convivo e não melhorar como pessoa, não se sentir tocada e solicita em cada situação que é apresentada.
Enfim, tem várias vantagens, essas são só as principais.
Vou deixar linkado um vídeo aqui, que foi feito para a divulgação do poder de ensino que eles possuem mas, que dá para ter uma boa noção de quão colossal é o complexo do HC.
O Hospital dos Rins também tem muitas vantagens e algumas desvantagens, se não me engano ele continua sendo o Hospital que mais realiza transplantes no Brasil e tem um know how elevadíssimo para isso.
Obs: Hoje sei que o Hospital do Rim faz um consulta no ato da inscrição.
É isso amigos, grande abraço.