Todos

Perdi a fístula…

Mais um relato do triste ano de 2018

Não vou lembrar a data certa, sei que era novembro de 2018, eu estava em uma angustia tão grande que hoje pensando nisso, concluo que apesar de estar focada em fazer as coisas acontecerem na minha vida, por tudo que já havia passado durante o tratamento, principalmente por presenciar quase que diariamente pessoas sofrendo, passando mal, algumas das vezes eu também sendo a protagonista da vez e, mesmo diante de tanto obstáculo, isso não fez eu ter ficado emocionalmente forte, muito pelo contrário, após o transplante – concluo hoje – que fiquei mais fragilizada do que quando fazia hemodiálise.

Eu sempre enxerguei na minha fístula o meu seguro de vida, em 7 anos de hemodiálise e quase 3 anos de transplante, eu nunca tinha deixado de cuidar dela, só eu sei o quanto ela custou a ficar boa para puncionar, só eu sei como outro acesso desses vai ser bem difícil de eu conseguir. Ter ela funcionando após o transplante era a garantia de que se algo desse errado eu apenas voltaria de onde parei na hemodiálise e isso me deixava tranquila.

Pois bem, em meio a toda tempestade emocional que eu estava vivendo e claramente não estava dando conta, entre lagrimas e soluços, dormi em exaustão e pela primeira vez em 10 anos de fístula, acabei dormindo em cima do meu braço. Acordei algumas horas depois com uma dor no meu braço que eu não consigo nem descrever direito, parecia que as fibras musculares dele estavam sendo esticadas ao extremo e qualquer movimento que eu fazia com o braço, eu levava um choque que fazia meu corpo todo dar um tranco.

Tentei sentir o frêmito e não consegui, estava emocionalmente esgotada então foi bem difícil sair do lugar e pedir ajuda, por uns minutos eu apenas fiquei em uma confusão de pensamentos que me travaram. Quando finalmente consegui uma reação, gritei por ajuda. Minha mãe como sempre, minha parceira e amiga para todas as horas, correu para onde eu estava e olhou pra mim, percebeu de imediato que meu braço estava o dobro do tamanho, fiquei mais uma vez sem reação e ela foi bem rápida e quando percebi estávamos no pronto socorro do HC, mais uma vez.

Cheguei na parte da tarde, mas só foram olhar de verdade e fazer um ultrassom era quase 21h da noite, já não dava para fazer nada, eu havia perdido minha fistula, havia perdido meu seguro de vida e pensa como doeu, mais um baque emocional para a coleção. Fiquei internada por 3 ou 4 dias, não lembro de verdade, tive que ficar tomando anticoagulante e só me deram alta quando me comprometi a comprar um remédio caríssimo que teria o mesmo efeito do Marevan (dado pelo sus), mas sem a necessidade de ficar dosando pelo sangue até chegar na dose segura, fazendo assim com que meus dias de internação se prolongasse. Aceitei de imediato comprar o remédio para sair dali, estava presenciando tantas coisas que se já estava emocionalmente frágil, estar ali só pioraria.

Minha creatinina durante a internação chegou bater 1.7, eu mal saia do lugar e bebia água e, lá na época, para beber água você tinha que ir atrás da enfermagem para ganhar um copinho de agua.

Tive que tomar por 6 meses o remédio e foi assim que infelizmente perdi a fístula.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s