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O transplante – Parte 05.

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Olá pessoal.
Peço desculpas por ter interrompido as postagens, eu estou no ultimo ano da faculdade e conciliar o transplante + exames + consultas regulares + estudos, ocupou muito do meu tempo, como eu gosto de fazer as coisas o melhor possível, não conseguia dedicar atenção suficiente para meus relatos. Agora que estou de férias, vou tentar colocar em dia tudo que aconteceu.

03/03 – Aliviando umas coisas… Complicando outras…
Umas das muitas condutas pós transplante lá do HC é retirar a sonda no 5º dia pós cirúrgico, eu nem preciso dizer que acordei ansiosa achando que isso aconteceria logo pela manhã.
Quem me conhece bem sabe que eu simplesmente detesto todas as quintas-feiras, é algo meio “místico”, mas tudo que pode acontecer de ruim comigo, geralmente acontece em uma quinta. Porém, desta vez tinha esperança de mudar esse padrão.
A manhã começou típica, verificação dos sinal vitais, ir me pesar, tomar os imunos, tomar café e banho.
Tudo isso e ainda era 9h da manhã, horário que geralmente começa a movimentação dos médicos pelos corredores.
Como de costume, estava sentada na cadeira até eu avistar meu medico e ele me avistar. O quarto que eu fiquei fica quase de frente para a sala onde os médicos se reúnem, então eu conseguia monitorar todos movimentos deles (a doida do 7º andar, hahaha). Acho que o meu médico percebeu e toda vez que passava não olhava pro meu quarto… “ignorada mode on” hahahahaha…
Eu torcendo para ele parar e me dar uma atenção para ao menos avisar que iram tirar aquele troço do meio das minhas pernas e fui completamente ignorada a manhã toda.
Chegou o almoço (pior que horrível) e nada de médico. Pra ajudar nenhuma enfermeira sabia se iriam “sacar” a sonda. Eu cansei de ficar no quarto e comecei a andar pelos corredores, me aventurei do lado de fora e fui pra ala da urologia, que é simplesmente divina, um luxo puro. Depois enjoei e fui para a ala da cirurgia vascular e para a ala da endocrinologia também. A titulo de curiosidade, no 7º andar são 5 alas, tem a Urologia, o Transplante Renal, a Nefrologia (que esta em reforma para ficar chique igual a urologia, então estava fechada), tem a cirurgia vascular e a endocrinologia. Fiquei vagando igual uma zumbi, arrastando o “cachorrinho” com a sonda de um lado para o outro.
Meu celular havia pifado, então estava sem comunicação, sem distração, sem coisa alguma para fazer, então vamos gastar o chinelo, cruzei com alguns desconhecidos, orientei vários perdidos e ouvi algumas breves historias.
A tarde chegou, eu cruzei com o meu medico no corredor, que só disse pra eu pegar leve na caminhada, quando eu ia perguntar da sonda, ele deu as costas (¬¬’) e entrou no elevador.
Já havia desistido da ideia, estava escurecendo e finalmente as 20h quando a equipe de enfermagem trocou de turno, a enfermeira chefe apareceu e disse que iria sacar finalmente a sonda. *Fogos*, *Tiros de Canhão*, *Musica de Festa*.
Ok. Boa noticia. Só que… será que tirar essa geringonça dói? Pensei comigo mesma.
Aí eu não sabia se ficava feliz ou se ficava preocupada. E enquanto esperava a enfermeira trazer os aparatos a ansiedade aumentava. E se quando tirasse a sonda eu não conseguisse urinar sozinha??? E se ao tirar a sonda, desfizesse algo lá dentro? Tipo, entrei em modo neurótico extremo, aí já não queria mais tirar a sonda, hahahahahaha.
Depois de mais de uma hora de espera, finalmente chega o grande momento.
Eu tive que ficar deitada só que eu queria muito ver como era o processo pra tirar e o que tinha na parte de dentro. Foi um misto de medo e curiosidade, mas a curiosidade venceu e eu fiz um famoso pescoção pra ver, hahahaha… Só que foi muito rápido, numa piscadela e já estava livre daquele incomodo.
Depois que tirei a sonda eu queria mais era um super banho, porque pessoas, por mais que você se limpe o tempo inteiro, tome 20 banhos diários. VOCÊ SE SENTE SUJA. É uma porcaria isso!!!
Fui tomar meu banho feliz da vida, ahhhhhh liberdade!!! Maravilha!!! Só que então eu percebo, poxa, não tenho vontade de urinar, será que vai demorar para isso acontecer??? Aí claro, fiquei preocupada…
Percebam o monstro neurótico em que eu me transformei depois desse transplante, rsrs.
Já tinha passado umas 2h e nada de vontade de urinar, eu perguntava para Cris (coitada acho que cansou de ficar ouvindo minhas indagações, hahahaha), perguntava para enfermeiros, até para um médico que nunca vi na vida, tive que parar e perguntar, mais uma vez, todo mundo falando que era super normal, mas acho que Jesus poderia se materializar na minha frente e me falar que era normal que eu não ia acreditar, o fato tinha que acontecer para eu me acalmar.
Já estava dando quase 3 horas que estava sem a sonda, então senti uma leve dor na região da bexiga, corri pro banheiro rezando mentalmente para acontecer.
A partir do momento que me tiraram a sonda, deixaram no banheiro uma comadre e uma vasilha com meu nome, eu teria que fazer o controle de tudo que urinasse, não poderia perder nada. Olhar para aquela vasilha vazia estava me deixando angustiada.
Não consegui fazer nada. Eu sentei no canto do box do banheiro e comecei a chorar. Não só pelo fato de passar pela cirurgia ou de ser tudo desconhecido, eu estava emocionalmente desgastada. Ver pessoas doentes, pior do que eu via na hemodialise, pessoas que diziam que dariam tudo para estar no meu lugar e pensar que eu pensava o mesmo das pessoas que não fazem ideia do que um DRC enfrenta, como eu queria estar em casa estressada com os problemas comuns, mas não, estava lá sozinha, dentro de um banheiro, sem saber o que mais poderia vir pela frente. Medo, angustia, tristeza, eu baixei minha guarda e deixei todos esses sentimentos me levarem.
Fiquei alguns minutos no box, como se fosse o fim da linha, eu realmente estava sentindo isso.
Não no sentido que iria morrer, nem me importando naquela altura se o transplante não desse certo. De verdade se não desse, era só voltar para a hemodialise. O pior foi perceber o rumo que minha vida tinha tomado. Eu que nunca quis parar de fazer as coisas, quis trabalhar, estudar, quis evoluir mental e moralmente, já que a parte física não dependia mais de mim. Eu comecei a me questionar que nenhum dos sacrifícios que tinha feito nesses 6 anos valeram a pena. E que aquele momento não era o meu BOOM (um momento crucial de mudança de vida, tipo quando você compra uma casa ou é promovido para um cargo que estava lutando por ele há tempos… enfim, coisas que não acontecem sempre, que na verdade são momentos raros e preciosos).
Depois de bitolar em pensamentos trágicos, respirei fundo, me levantei, lavei o rosto me olhei fixamente no espelho e mandei um sonoro FODA-SE. Já estava lá, o que tivesse que acontecer, iria acontecer. Sai do banheiro de peito erguido (apesar de estar mentalmente ferida por dentro, jamais demonstraria isso, principalmente para desconhecidos). Fui dar mais uma volta no corredor e cruzei com uma menina entrando na ala do transplante, pois ligaram para ela naquele instante. Estava ela e mais cinco pessoas acompanhando ela. O olhar dessa menina era bem assustado e essas cinco pessoas que estavam com ela, eram só festa. Vi semelhança. Ali percebi que não era a única maluca.
Desfoquei da menina e continuei meu rumo aos corredores, que naquele momento estavam desertos. Após 30min caminhando, mais uma dor na bexiga, dessa vez, fingi que não tinha sentido nada, continuei caminhando. A dor foi aumentando cada vez mais, até chegar um ponto que estava bem forte a ponto de eu achar que deveria pedir um remédio. Claro que antes, um pouco contrariada, voltei para o banheiro. A Cris já estava dormindo, então tentei ser o mais silenciosa possível. Era aproximadamente 23:50 quando o milagre aconteceu. Finalmente consegui urinar sozinha, e até que não tinha sido pouco pra quem estava com a bexiga atrofiada, foram 200ml. Chorei novamente, dessa vez de alivio. Após isso, me preparei e fui dormir, amanhã seria outro dia. O problema, é que tive que acordar de hora em hora para correr no banheiro. Sim senhores, por minha bexiga estar pequena, ela enchia muito rápido. Eu praticamente não dormi.
Conclusão: Antes de corres atrás de um transplante, aprenda a meditar, porque autocontrole é algo essencial para não pirar no pós cirúrgico.

Resumo técnico do dia:
– Tirei a sonda.
– A queimação no estômago continuou e se tratando da parte física do processo, essa foi a coisa que mais incomodou até então.
– Não tive nenhum tipo de dor, além da queimação do estômago.
– Meu curativo continuou vazando um pouquinho.
– Fiquei andando pelos corredores o dia todo.
– O medico não passou, contudo, a enfermeira avisou que tudo estava dentro do esperado e em breve eu iria ter alta.

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