02/03 – Um dia de fúria…
Desde o dia do meu transplante o meu intestino estava preso.
Medicamentos para dor costumam causar esse efeito e eu já havia reclamado com o medico que prometia que iria prescrever um remédio para ajudar, mas até então, não havia tomado nada.
Eis que acordo com aquela sensação de urgência, mas para quem está a tanto tempo assim sem se resolver, só podia esperar pelo pior.
Do momento que eu acordei até a hora do almoço, foram várias tentativas inúteis, estava ressecada demais. Pedia para as enfermeiras ajuda, algum remédio, até mesmo algum procedimento que pudesse me ajudar, tamanha era a dor e a vontade. A manhã inteira ouvi que o medico iria prescrever algo, mas nada apareceu para ajudar. Até que perdi a paciência e comecei a esmurrar a porta do banheiro, foi proposital, estava me sentindo negligenciada ali. E para ser honesta, esse dia eu realmente fui. Ninguem deu importância.
Após começar causar dentro do quarto, resolveram prestar mais atenção em mim, o que é super chato, ter que chegar a esse ponto para ser atendida.
Em 15 minutos apareceu o tal remédio. Um xarope que me pareceu muito inocente para resolver o problema.
Tomei o xarope meio desacreditada e continuei ali, monopolizando o banheiro nas minhas vãs tentativas.
Sem brincadeira, uns 10 minutos depois que tomei o tal xarope inocente, eu senti uma movimentação no abdome, parecia que tinha um alien dentro da minha barriga. O pior é que a cada movimentação, eu sentia forçar os pontos da cirurgia. Essa movimentação foi aumentando de intensidade e ali eu percebi que o estrago ia ser grande, rsrsrs.
Em menos de uma hora que havia tomado o xarope inocente, estava suando frio, tentando resolver e a dor era tão grande, que pensei que jamais iria conseguir. A Cris querendo me ajudar, me ensinou até uma simpatia, rsrs, eu estava topando qualquer coisa para resolver isso de uma vez.
Depois de suar muito (meu avental ficou lavado de suor) e forçar por muitos minutos, finalmente consegui. Mas foi com certeza a maior dor que senti durante a minha internação. Depois da primeira vez, meu intestino desembestou. Chegou o almoço, chegou o lanche da tarde e eu ali presa no banheiro, não conseguia sair, hahahaha…
Minha mãe chegou para visita e teve que ficar no banheiro comigo, porque eu simplesmente não saia de lá, não conseguia.
Depois de algumas horas e vários banhos, o meu intestino resolveu descansar, mas já era final de tarde quando consegui sair do banheiro. Curiosa, fui me pesar. Havia perdido 3 dos 6 quilos que havia ganhado desde o transplante. Estava exausta e morrendo de dor já que havia forçado muito os pontos. De verdade, acho que as linhas eram de Adamantium para não terem estourado.
Minha mãe já havia ido embora e eu estava sem graça com a Cris por ter monopolizado tanto o banheiro, resolvi ficar andando pelos corredores só para não ter que ficar constrangida perto dela.
Neste dia não consegui fazer a medição da urina, então não fazia ideia de como estava o rim. Angustiada, fiquei esperando o médico dar noticias, queria saber como estava os exames que eles sempre colhem pela manhã. Depois de muita espera ele aparece e diz o mesmo discurso “esta tudo dentro do esperado, a creatinina vem caindo”.
Em alguns pontos da cirurgia, ainda estava vazando um pouco de sangue e uma água clarinha e sem cheiro, como nunca havia passado por uma cirurgia desse porte, estava morrendo de medo de ser uma complicação grave. Já era para eu ficar sem curativo, mas devido a esse vazamento, eu tinha que trocar o curativo de tempos em tempos, o que era ruim, porque além dos pontos, as fitas do curativo limitavam meus movimentos.
A janta chegou, horrível para variar, deixei de lado e peguei somente a fruta.
Já estava me sentindo fraca, o fato de não me alimentar direito só piorou a situação.
Como a dor estava forte, chamei a enfermagem e pedi um remédio para dor. Elas sempre pedem para numerar a dor de 1 a 10, eu disse 11, realmente queria um remédio forte. Em pouco tempo, trouxeram um soro com a medicação. Como sabia que iria dormir com esse remédio, já tinha me preparado para só acordar no dia seguinte. E assim aconteceu.
Resumo técnico do dia:
– Ainda com queimação no estômago, talvez seja falta de alimentação + medicamentos.
– Não tive dor relacionada a cirurgia.
– Meu curativo vazou bastante, principalmente quando fiquei sentada.
– Não andei muito hoje.
Pois é… Mais uma etapa díficil superada.
CurtirCurtir