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O transplante – Parte 02.

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29/02 – O dia seguinte.
Acho que esse é o dia que eu menos me recordo de todos.
Fiquei o dia todo na cama com um medo danado dos pontos romperem.
Não consegui almoçar, alias, a comida do hospital é horrível devo confessar. Dos 8 dias de internação só consegui fazer duas refeições, um almoço e uma janta. Passei a internação à base de frutas e torradas praticamente. Até começar “contrabandear” comida, mas isso foi no 7º dia de internação, peguei a malícia da coisa um pouco tarde, hahaha…
Como estavam me dando medicações fortes, eu mais dormi que fiquei acordada, sei que passei o dia todo com frio, quando acordava minha única preocupação era saber se havia urina na sonda.
Lá no HC o horário de visita é das 15:00 às 17:00, então estava ansiosa para chegar logo as 15:00 e ver minha mãe, porém, justamente no horário da visita me buscaram para fazer o ultrassom. Eu fiquei muito, mas muito irritada com isso, além do medo, porque imagina um ultrassom em cima de uma cirurgia que tem menos de 24h que aconteceu. Só que não tinha opção né, então desci para o InRad fazer o tal do ultrassom.

Era a primeira vez que iriam tirar o curativo, eu estava em pânico, não queria que ninguém encostasse em mim por um ano, hahahahahaha… Agora eu dou risada, mas eu juro que fiquei muito Drama Queen nesse dia.

Após esperar um tempo considerável me levaram para a sala de ultrassom, a enfermeira chegou para me preparar e já foi puxando a fita para tirar o curativo. Me deu uma aflição danada, me senti um pouco violada, hahahaha… Fiquei lá, exposta, aguardando alguém para fazer o exame. Depois de mais algum tempinho chegou a médica, que devo detalhar, ela foi super delicada, passou o aparelho bem suavemente, o único problema é que ficou fazendo uma cara seria, parecia que ela estava vendo algum problema. Depois de acho uns 30m (eu realmente perdi a noção do tempo lá), ela finalizou, mas disse que iria conversar com o professor dela. Alí eu gelei. Depois de mais algum tempo, aparece a Dra. com o professor dela que já sentou na cadeira e pegou o aparelho e foi com gosto em cima da cirurgia. Para ser honesta não doeu, porque a região estava meio anestesiada ainda, mas a aflição foi MUITAAAAA. Ele colocou tanta pressão que eu acho que ele ia atravessar minha barriga com aquele aparelho. O engraçado é que ele agia como se fosse a coisa mais tranquila e normal do mundo. Eu me senti um nada ali, fui totalmente ignorada, ele só falava com a outra Dra., explicando como ele fazia para enxergar as coisas. Ali eu me dei conta que era apenas uma ferramenta de estudo, e tudo bem, afinal lá é um hospital escola, nada mais natural, HOJE eu percebo isso, no dia não foi bem assim. Voltando… Depois de ficar ouvindo termos técnicos, tanto sobre meu corpo, quanto do aparelho de ultrassom, ele disse que colocaria no laudo como um ultrassom de parâmetros normais. Apenas depois disso, ele resolveu falar comigo e perguntou quem havia me doado o rim. Quando eu respondi que havia sido doador cadáver ele ficou surpreso e disse que estava muito bom, parecia de doador vivo. Eu dei apenas um sorrisinho, estava tão cansada que queria voltar pro quarto o quanto antes, torcendo para dar tempo de ver minha mãe. Os médicos saíram da sala dizendo que chamariam uma enfermeira para me levar de volta para o 7º andar. Sem brincadeira, acho que fiquei esperando umas 2 horas alguém aparecer. Ficar em uma maca dura por mais de duas horas estando recém transplantada, meus amigos, não foi fácil.

Cheguei no quarto e lá estava minha mãe, já se passavam das 18:00, porém, foram flexíveis e permitiram que minha mãe fizesse o horário de visitas.
Só que eu mal sabia que iria passar por mais uma situação inédita. As enfermeiras queriam que eu tomasse banho, mas eu não conseguia nem descer da maca, quanto mais ficar em pé embaixo de um chuveiro… resultado? Banho de balde na maca. Eu deveria ter feito toda força do mundo e ido até o banheiro. Se fiquei com aflição do médico me cutucando com um aparelho, imaginem duas enfermeiras jogando agua e “esfregando” sabão pelo seu corpo, inclusive na incisão? Eu queria correr dali. Novamente comecei a tremer, as enfermeiras me vestiram e ajudaram a passar para a cama e me cobriram. Logo em seguida, chega a fisioterapeuta querendo que eu saísse da cama para caminhar com ela. Eu quase fui mal educada na resposta, mas disse que não conseguia sair da cama, ela insistiu um pouco, mas viu que não iria conseguir nada comigo aquele dia, mas prometeu voltar no dia seguinte, rsrsrs.
Minha mãe foi embora e depois de todas essas experiências eu fiquei me perguntando se havia valido a pena. Hoje eu reconheço que não passei por nada demais, mas como disse antes, eu estava entristecida e meio contrariada em relação a esse transplante. Passei o resto da noite chorando baixinho para não incomodar a Cris.

Resumo técnico do dia:
– Urinei somente 700ml, isso tomando diurético a cada 6h.
– O médico responsável informou pela primeira vez que tudo estava dentro do esperado e que minha creatinina começou a cair, mas não revelou os números.
– Não senti muita dor, o que mais incomodou foi uma queimação no estômago.
– Não quis sentar, levantar e comer.

3 comentários em “O transplante – Parte 02.”

  1. Ana, estou amando ler seus relatos pós transplante. Já passei por dois e sei o que isso significa na vida real. Hoje, sou totalmente à favor da qualidade de vida renal, com hemodiálise de qualidade (Oq estamos muito longe!) e estrutura para todos que precisam fazer o TX (ainda mais longe em alguns estados). Estou na hemodiálise há quase 11 anos e estou bem, mas lendo seus posts me dá uma coceirinha para tentar o terceiro…mas não tenho estrutura emocional e física para isso!!Pelo menos por enquanto…Beijos, boa sorte e fique bem!!!

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  2. Lu, disse tudo, eu sempre procurei estar no meu melhor na hemodialise, sem ficar contando um dia com o transplante, nunca fiquei rogando aos céus por ele, simplesmente me deixei disponível caso viesse, rsrsrs. Agora realmente, tem que estar bem emocionalmente, no caso eu não estava muito equilibrada, então a parte física foi tudo muito bem, já a emocional… Mas estou bem melhor, mais ainda posso e devo melhorar mais. Bom, a escolha de transplantar ou não é individual de cada um, mas eu imagino você, que tem um trabalho tão lindo, na hemodialise faz o que faz, imagino transplantada com tudo indo bem… o céu é o limite! rsrs… Desejo o melhor pra vc, fica bem e fique com Deus. Bjao.

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