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Fistula n°02

Confesso que quando eu soube que a primeira fistula não tinha dado certo, minha frustração foi tamanha que pensei em jogar tudo pro alto, que era um caso perdido, que não iria conseguir uma outra e que viveria com o cateter.
Hoje fui tentar uma outra fistula. Na avaliação o Dr. Susume torceu o nariz, disse que seria difícil, que ele tentaria no braço direito, bem na dobra dele.
Da mesma forma que foi na primeira, cheguei ao hospital antes da hora, estava tranqüila, sem medo, apenas um pouco entediada de ficar no hospital, a cirurgia estava marcada para as 13:00, cheguei no Hospital dos Rins umas 10:00, pois fomos dar uma força para outra paciente que dialisa na clinica, que iria tentar sua 3ª fistula, a cirurgia dela iria acontecer as 12:00.
Como da outra vez, o Dr. Susume apareceu horas depois, rs, vou descrever a segunda cirurgia.
– Dr. Susume chegou era 16:30, fui chamada para o já conhecido 5° andar uns minutos após.
– No 5° andar o roteiro foi o mesmo, pegar o avental, ir para o vestiário, me trocar e aguardar minha vez na sala RPA.
– Havia novamente 3 pacientes operados, um deles com certeza era transplante, pois ele acordava de 10 em 10 min perguntando quando seria a cirurgia, e a enfermeira avisava “Sr. João, como já disse, a cirurgia já aconteceu, deu tudo certo o Rim esta funcionando”, rs, então o Sr. João voltava a dormir. Os outros dois pacientes estavam em sono profundo, não sabia dizer o que havia acontecido com eles.
– Enquanto esperava, chegou uma paciente em uma maca, que iria para cirurgia, pois o transplante dela rejeitou (deu trombose), e eles iriam voltar para a cirurgia dela para retirar o rim. Vendo aquela situação, não consegui mais pensar em nada, só comecei a rezar para a mulher ficar boa, os médicos dando a noticia para ela que o rim havia trombosado me doeu fundo no peito, a vantagem é que a mulher estava tão dopada, que quase não reagiu a noticia.
– A mulher foi encaminhada para a sala cirúrgica, e eu fiquei com ela no pensamento. Nisso outra mulher que estava esperando também por uma reparação na fistula começou a passar mal, com pressão alta. Quis tentar afastar maus pensamentos, mas não consegui, pensei comigo “essa é minha vida, posso estar bem hoje, mas o futuro é mais ou menos assim”, fiquei chateada, mas continuei rezando, agora pelas duas mulheres.
– O enfermeiro chegou com a cadeira de rodas, e fui eu, mais uma vez para a sala cirúrgica, dessa vez não consegui nem concentrar na cirurgia, minha cabeça estava na mulher que rejeitou o rim. Não prestei atenção em nada, apenas lembrei da cirurgia quando senti uma dor aguda no braço, como estava com a visão tampada, pensei que o medico estava colocando uma prótese, pois foi cogitada essa hipótese na avaliação. Coloquei na mão de Deus, e continuei a pensar na mulher, e como mais uma vez a vida sendo irônica, me mostrando os dois lados, de um o Sr. que transplantou e que perguntava de 10 em 10 minutos quando seria operado, chegando ate a ser engraçado, e em outro, uma mulher que havia rejeitado os rins, que não estava ciente do que estava acontecendo também, mas não havia graça nenhuma.
– A cirurgia acabou não sei nem dizer se havia musica dessa vez. Quando olhei para o famoso curativo, vi que não tinha prótese nenhuma, então lembrei o que a Cris falou, que em algumas cirurgias da fistula, dá uma dor aguda, pois acaba pegando alguns nervos.
– Dessa vez a sensação era diferente, pois estava sentindo uma pulsação forte no braço, coisa que não havia sentido da primeira vez. Saí da sala mais confiante, mas quando cheguei na RPA, a senhora que rejeitou o rim já estava lá, mas ela não conseguia respirar, então os enfermeiros ficaram em cima dela, tentando acordar ela, falando “Sra. Márcia, você precisa respirar”, e aquelas maquinas apitando freneticamente, começou um corre-corre na sala, e eu querendo fugir dali.
– Fiquei sentada esperando minha mãe chegar com minha roupa, mas como demorou um pouco, acompanhei a saga da mulher lutando pela vida dela. Ela voltava respirar, de repente parava. Então os enfermeiros fecharam a cortina em volta do leito dela (se isso adiantasse alguma coisa).
– Minha mãe chegou e eu mais que depressa fui embora.
Honestamente, acho que nesse ponto os hospitais deveriam ser mais “humanos” e não deixar pessoas que estão conscientes ficar em salas assim, quem quer trabalhar com isso tudo bem, mas nós pacientes, acabamos nos traumatizando com isso. Toda minha experiência dentro de UTI foi traumática e angustiante.

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